Da fila ao transplante: em MS, saiba o caminho percorrido por quem precisa de novo órgão para viver

Da fila ao transplante: em MS, saiba o caminho percorrido por quem precisa de novo órgão para viver

Entre as partes do corpo que podem ser doadas para um transplante estão: pulmão, coração, fígado e rins

A realização de transplante de órgãos pode salvar vidas. Entre as partes do corpo que podem ser doadas estão: pulmão, coração, fígado e rins. Mas para entrar na fila para receber um transplante é necessário seguir alguns direcionamentos.

O paciente que necessita de transplante precisa entrar no sistema de regulação. Isso é feito mediante uma consulta com um médico que vai solicitar uma consulta com uma equipe especializada em transplante.

Após isso, ele é avaliado por uma equipe especializada em transplante, e realiza os exames específicos. Se for necessária a realização do procedimento, a equipe médica realiza a inscrição do paciente em lista de espera, especificando também características do doador que podem ser aceitas para o paciente. Só quem pode colocar o paciente na fila é o médico transplantador com autorização do Ministério da Saúde.

O médico e especialista em transplante de fígado, Gustavo Alves Rapassi, comenta sobre como é esse processo.

“Basicamente, o paciente precisa passar por algum profissional da área da saúde que reconhece os sinais precoces da doença. Nosso ambulatório no Hospital Adventista atende todos esses pacientes em, no máximo, sete dias da solicitação. Também atendemos os pacientes internados, quando eles não têm condições de virem à consulta”.

Cada órgão necessário requer suas próprias exigências. O transplante de rim, por exemplo, segue as indicações vigentes na Portaria GM 2600/2009 – Módulo de Rim. As portarias ficam disponíveis no SNT (Sistema Nacional de Transplantes) e podem ser conferidas neste link.

Lista

A lista para transplante engloba tanto pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) quanto da rede privada. Entre os fatores que vão determinar a ordem na lista estão: tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, e compatibilidade genética.

A ordem cronológica do cadastro é usada como desempate. Mas pacientes em estado crítico têm prioridade.

Existe favoritismo na lista de quem aguarda um órgão? Rapassi reforça que todos têm a mesma chance de conseguir um transplante, mas há regras de prioridade.

“A lista é organizada por ordem de gravidade: mais grave, mais a frente fica, aumentando as chances do transplante. O problema se dá com o diagnóstico, que, por ser uma doença silenciosa, quando os sintomas aparecem, pode ser tarde demais”.

Transplante em MS

E quais os procedimentos de transplantes feitos em MS? No Estado, são realizados transplantes de rim, de medula óssea, de tecido músculo esquelético, de córnea e de fígado. Confira os hospitais.

  • Transplante de Rim: Santa Casa (SUS) e Hospital da Unimed (particular e convênio);
  • Transplante de medula óssea autólogo: Hospital Cassems (particular e convênio, não faz SUS);
  • Transplante de tecido músculo esquelético (ossos): Hospital da Unimed (convênio e particular, não faz SUS);
  • Transplante de córnea: Santa Casa (SUS), São Julião (SUS),
  • Hospital Adventista do Pênfigo (SUS) e várias clínicas particulares realizam o transplante de córnea;
  • Transplante de fígado: Hospital Adventista do Pênfigo (SUS).

Contudo, vale lembrar que não há um hospital que realize transplante de coração no Estado. Assim, os pacientes de MS que aguardam na fila para a cirurgia são encaminhados para outros centros de referência.

Procedimento

O transplante com o doador em vida pode ser de um dos rins, parte do fígado, parte da medula e parte dos pulmões. Caso a doação seja de outro órgão, é necessário constatação de morte encefálica do doador.

Em 2024, segundo o médico especialista em transplante de fígado, o índice de recusa familiar para a doação de órgãos atingiu 70% em Mato Grosso do Sul. Enquanto a média de recusa no Brasil é de 41%.

“Só a doação de órgãos (e a conscientização da população) pode reduzir a mortalidade na fila do transplante, que, hoje, é, em média, de 33%. Ainda contamos com um dos maiores índices de recusa familiar à doação em MS, quando comparado com outros estados”, comenta Gustavo.

Atendimento em MS

O Brasil tem o maior sistema público de transplantes de órgãos no mundo. A estrutura é gerenciada pelo Ministério da Saúde, que assegura que cirurgias de alta complexidade sejam realizadas para pacientes da rede pública e privada, em situação de igualdade.

As informações são da SES (Secretaria de Estado de Saúde) de MS, que destaca que pretende ampliar as instituições que realizam transplantes no Estado.

“A SES pretende ampliar as instituições que realizam transplantes em Mato Grosso do Sul e reforça que todo o processo de doação de órgãos, desde a captação ao transplante, é realizado de forma transparente. O processo é gerenciado pela CET/MS (Central Estadual de Transplantes de Mato Grosso do Sul) e acompanhado pelo Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde”.

Mas em Campo Grande, a licitação para credenciar hospitais para doação de órgãos acabou com nenhum interesse. Até quatro de fevereiro nenhuma empresa apresentou documentos para fazer parte da licitação.

Uma nova chance

O programador, músico e professor, Artur Jorge Bicudo, recebeu o diagnóstico de cirrose hepática em 2019, e depois de encefalopatia hepática. Mas só foi realizar a cirurgia de transplante de fígado em dezembro de 2024, depois de quatro meses esperando na fila.

Artur no dia da cirurgia / Artur, acompanhado da irmã, no dia que recebeu alta (Fotos: Acervo pessoal)

O músico começou a apresentar sintomas depois dos 40 e só então foi procurar um médico. Assim, foi detectada que a cirrose era causada pelo vírus da hepatite C. O tratamento para a hepatite consistia em um remédio que custava R$ 80 mil.

“Durante seis meses eu tomava essa medicação, uma medicação bem cara. Na verdade, custava R$ 80 mil. Mas o SUS (Sistema Único de Saúde) fornecia, eu fui atrás e consegui fazer o tratamento, em seis meses eu consegui combater o vírus da hepatite”.

Doações salvam vidas

Artur levava uma vida com excessos, tanto no álcool como na alimentação, associados a umas rotina sedentária. Mas, após a realização do transplante, afirma estar melhor, levando uma vida diferente e mais regrada. Ele já voltou a dirigir e pretende voltar a fazer atividade física.

Graças a doação de órgãos, ele tem a oportunidade de mudança em sua vida. No momento, Artur está trabalhando em regime de teletrabalho (home office), e planejando ideias para fortalecer a doação de órgãos.

Artur em ensaio fotográfico recente com o filho e o sobrinho (Foto: Acervo pessoal)

“Estou organizando ideias para fortalecer a doação de órgãos, fortalecer os jovens a se cuidarem mais, a não caírem nos vícios noturnos, como consumo de álcool. Então, estou criando um canal, e em breve vai sair livro, também, contando esses capítulos da minha vida. Desde a fase ruim até à fase boa”, comenta o programador.

Artur expôs um pouco de sua opinião quanto a doação de órgãos, ato que pode permitir que uma pessoa continue vivendo.

“A doação de órgãos é um ato de caridade, de fé, de espiritualidade, de vital importância. Muitas pessoas esperam esses órgãos, aí tem que gastar com remédio, com um monte de medicação. Então são de suma importância [as doações]”.

Quer ser um doador?

Atualmente, quem quiser ser um doador de órgãos pode inserir a informação ao fazer a nova carteira de identidade. Também é recomendado que comunique a família sobre a decisão. Pois os órgãos só podem ser doados após a morte com a assinatura de um familiar ao Termo de Retirada de Órgãos e Tecidos.

A coordenadora da Central de Transplantes de MS, Claire Miozzo, reforça a importância dos familiares seres avisados do desejo de ser um doador.

“Quem quiser doador de órgãos e tecidos deve conversar com sua família e deixar claro sua vontade de se tornar um doador de órgãos. Quem assina o termo de doação e parente até segundo grau, mediante duas testemunhas”.

Após a morte do paciente, uma equipe de acolhimento, composta por profissionais treinados e capacitados, conversa com os familiares e oferece a oportunidade dos órgãos serem doados.

“A doação de órgãos é muito importante, porque somente o transplante possibilita a sobrevivência de alguns pacientes graves. Portanto, é necessário conversarmos com nossa família e deixar claro que somos doadores de órgãos e tecidos para esse fim”, explica Claire.

Importante lembrar que, para a doação ocorrer de fato, os órgãos do doador são testados para doenças transmissíveis. Com a negativa, os órgãos e tecidos são distribuídos para pacientes compatíveis na fila de transplante.

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