Com aumento de 54% nas vendas no Pix, comerciantes de MS enfrentam ‘crise do troco’

Para driblar a falta de dinheiro em espécie, comerciantes transformaram o problema em solução com medidas criativas
Em quatro anos desde seu lançamento, o Pix se tornou o meio de pagamento mais popular entre os brasileiros, utilizado por 76,4% da população. A informação é de um levantamento do Banco Central, divulgado em dezembro de 2024.
Em Mato Grosso do Sul, 54% dos clientes de micro e pequenos empreendedores utilizam o Pix como principal meio de pagamento, de acordo com dados mais recentes levantados na pesquisa “Pulso dos Pequenos Negócios”, elaborada pelo Sebrae/MS em parceria com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O levantamento também colocou o Estado como líder no ranking nacional no uso do Pix como forma para aquisição de produtos e contratação de serviços no ano de 2023. Foi constatado também que 14% dos consumidores preferem o cartão de crédito, e 9% optam pelo cartão de débito.
Contudo, a preferência pelo pagamento por meio digital impacta diretamente na circulação de cédulas e moedas. Isso dificulta a vida de pequenos comércios que dependem do dinheiro em espécie para garantir o troco das vendas aos clientes.
Comerciantes que falaram com a reportagem sobre os impactos da carteira digital, revelaram que não veem a “cor” do dinheiro físico há, pelo menos, quatro meses em Campo Grande. Assim, para driblarem a crise gerada pela baixa adesão de pagamento papel-moeda, o jeito foi se adaptar aos novos meios e recorrer a métodos e estratégias para transformar o problema em solução.

Se não pode com o inimigo, junte-se a ele
Quando a modalidade de pagamento via Pix estreou, os comerciantes viram a circulação do dinheiro físico diminuir e, com isso, o troco sumir dos caixas. A solução foi se adaptar e encontrar meios da transação digital trabalhar a favor, e não contra o empreendedor.
O vendedor João Pedro de Paiva, de 19 anos, relata que, apesar do Pix beneficiar os consumidores e comerciantes por sua praticidade, a falta de troco no caixa ainda é um problema quando precisa atender clientes idosos. Ele explica que a maioria não tem facilidade com os meios digitais ou acesso à internet.
Para ter troco, é necessário recorrer à matriz da loja, onde há uma circulação maior de dinheiro físico devido às vendas por atacado. “O Pix é bom e prático. Mas às vezes chegam clientes com cédulas e não tem como dar o troco, então temos que ir até a matriz buscar para nunca faltar”.
Por outro lado, o comerciante Everton Castanha, de 48 anos, explica que, como a falta de dinheiro em espécie foi causada pelas transações digitais, ele passou a usar isso a seu favor e oferecer o troco por Pix. “A gente tem dificuldade, então tenta driblar, oferecendo fazer um Pix para o cliente [no valor do troco]. É uma ferramenta que buscamos encaixar dentro do nosso dia a dia”.
A comerciante Rosângela Amaro, de 55 anos, comenta que faz reserva para garantir o troco dos clientes que optam pelo pagamento com cédulas, pois muitos consumidores não possuem, ou somente não querem optar pelo pagamento digital. “Ofereço o troco no Pix, mas precisa ter uma reserva para os clientes que não têm ou não querem receber dessa forma. O Pix é positivo, porque ainda é uma modalidade que, dependendo do total movimentado no mês, não tem taxas”.
Associação Comercial avalia o Pix como ‘aliado’
O vice-presidente da ACICG (Associação Comercial e Industrial de Campo Grande), Omar Aukar, avalia que, de forma geral, a circulação de cédulas e moedas reduziu em todo o país e em todas as atividades comerciais.
No entanto, o vice-presidente afirma que isso não significa um impacto negativo no comércio. Por se tratar de um procedimento prático e pouco burocrático, a transação pode se tornar aliada, tanto do consumidor quanto do comerciante. “Às vezes, gera algum desconforto a sua falta, mas ainda assim não é motivo de preocupação para comerciantes. [A Associação] avalia positivamente [os impactos do Pix], trata-se de um procedimento prático, pouco burocrático e rápido”, detalha Aukar.
Além disso, Aukuar avalia que a tendência, daqui para frente, é se adaptar aos meios digitais, pois são mais rápidos e seguros. “Infelizmente em rodovias e pequenas cidades do interior temos problemas com a qualidade da internet, o que atrapalha as operações. Mas com as metas de telecomunicações estabelecidas para o país, o assunto será resolvido em pouco tempo”, destaca.
Pesquisa do Banco Central
A 7ª edição da pesquisa “O Brasileiro e sua Relação com o Dinheiro”, do Banco Central, revelou que brasileiros de ambos os sexos, de todas as classes sociais e das cinco regiões do país usam amplamente o Pix. A modalidade é adotada por 76,4% da população, seguida pelo cartão de débito (69,1%) e o dinheiro (68,9%).
A pesquisa, realizada entre 28 de maio e 1º de julho de 2024, contou com a participação de duas mil pessoas, das quais mil eram caixas de estabelecimentos comerciais.
O estudo abrangeu todas as capitais do Brasil e municípios com mais de cem mil habitantes, exceto o estado do Rio Grande do Sul, devido à catástrofe climática ocorrida em maio do mesmo ano. A organização redistribuiu as entrevistas que seriam realizadas no Rio Grande do Sul para cidades de Santa Catarina e Paraná.
A pesquisa também buscou entender qual meio de pagamento a população utiliza com maior frequência. O Pix lidera, com 46,1%, seguido pelo dinheiro, que ocupa o segundo lugar com 22%. Em seguida, estão os cartões de débito (17,4%) e os cartões de crédito (11,5%). A próxima edição da pesquisa está prevista para 2027. Para acessar a pesquisa completa clique aqui.