Um em cada 20 brasileiros ainda é analfabeto, aponta IBGE

Acesso à educação avança no Brasil, mas sem atingir maioria das metas
O Brasil contabilizou, em 2024, cerca de 9,1 milhões de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler nem escrever. Isso representa uma taxa de analfabetismo de 5,3%, segundo dados da Pnad Contínua Educação 2024, divulgados nesta sexta-feira (13) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O índice vem em queda desde 2016, quando era de 6,7%, o que representa uma redução de 1,4 ponto percentual. Apesar dos avanços, o país ainda está distante de erradicar o analfabetismo — objetivo estabelecido para 2024 pelo PNE (Plano Nacional de Educação). A meta intermediária, de reduzir a taxa a 6,5% até 2015, foi parcialmente cumprida.
A maior concentração de pessoas analfabetas está na Região Nordeste, que responde por 55,6% do total — cerca de 5,1 milhões de indivíduos. O Sudeste aparece em segundo lugar, com 2,1 milhões de pessoas (22,5%).
A taxa de analfabetismo está fortemente ligada à idade. Mais da metade dos analfabetos (5,1 milhões) tem 60 anos ou mais, grupo em que o índice chega a 14,9%. Entre pessoas com 40 anos ou mais, o percentual é de 9,1%. A taxa cai para 6,3% entre quem tem 25 anos ou mais e para 5,3% na população com 15 anos ou mais.
Desigualdades persistem entre gênero, cor e escolaridade
A desigualdade de gênero ainda é evidente. Em 2024, 5,0% das mulheres com 15 anos ou mais eram analfabetas, contra 5,6% dos homens. Entre os idosos, a taxa de analfabetismo entre mulheres (15,0%) foi ligeiramente superior à dos homens (14,7%). Segundo o IBGE, a diferença entre os sexos é a menor da série histórica, o que indica uma tendência de equilíbrio.
As disparidades por cor ou raça revelam um quadro ainda mais desigual. Enquanto apenas 3,1% das pessoas brancas com 15 anos ou mais são analfabetas, a taxa entre pretos ou pardos é de 6,9%. A desigualdade se agrava entre os idosos: 21,8% dos pretos ou pardos com 60 anos ou mais não sabem ler nem escrever, contra 8,1% dos brancos. Mesmo com uma queda de 0,9 ponto percentual em relação a 2023, a taxa entre idosos pretos ou pardos continua quase três vezes maior que a de brancos da mesma faixa etária. Para o IBGE, os dados refletem “um legado estrutural de exclusão educacional”.
A pesquisa também revelou que 56% da população com 25 anos ou mais havia concluído, ao menos, o ensino médio. O percentual de pessoas com ensino médio completo subiu de 29,9%, em 2022, para 31,3%, em 2024.
Entre os que não finalizaram a educação básica, 5,5% não tinham nenhuma instrução formal, 26,2% possuíam ensino fundamental incompleto, 7,4% haviam concluído o fundamental, e 4,9% interromperam os estudos no ensino médio.
As mulheres seguem à frente na escolarização: 57,8% delas completaram a educação básica obrigatória, contra 54,0% dos homens. Ambos os grupos apresentaram avanços em relação ao ano anterior.
No recorte racial, a diferença continua marcante. Entre os brancos, 63,4% concluíram o ciclo básico educacional. Entre pretos e pardos, o índice foi de 50%, mantendo uma diferença de 13,4 pontos percentuais — praticamente o mesmo patamar de 2023.
O número médio de anos de estudo entre brasileiros com 25 anos ou mais foi de 10,1 em 2024, frente a 9,9 no ano anterior. As mulheres seguem com média maior (10,3 anos) em relação aos homens (9,9 anos). Por raça, a média de anos de estudo é de 11 entre brancos e de 9,4 entre pretos ou pardos, diferença que diminuiu em relação aos 2 anos registrados em 2023.
Educação avança no Brasil, mas metas do PNE seguem fora do alcance
O acesso de crianças e adolescentes à educação no Brasil continuou avançando em 2024, mas sem alcançar a maioria das metas previstas pelo Plano Nacional de Educação (PNE), em vigor desde 2014. Os dados são da Pnad Contínua Educação, divulgada nesta sexta-feira (13) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A única faixa etária que atingiu e manteve o nível de universalização do acesso foi a de 6 a 14 anos: em 2024, 99,5% das crianças e adolescentes dessa faixa estavam na escola — percentual já considerado universal pelo IBGE desde o início da série histórica, em 2016, quando o índice era de 99,2%.
Outros dois grupos etários, no entanto, seguem abaixo da meta de universalização:
Crianças de 4 e 5 anos: 93,4% estavam matriculadas em 2024. A taxa vinha crescendo desde 2016 (90%), alcançou 92,7% em 2019, sofreu queda durante a pandemia (91,5% em 2022) e voltou a subir nos dois anos seguintes.
Adolescentes de 15 a 17 anos: também registraram 93,4% de frequência escolar em 2024, após uma trajetória de alta desde 2016 (86,9%), com oscilações nos anos recentes (92,2% em 2022 e 91,9% em 2023).
“O Brasil avança no acesso à escola, mas ainda não atingimos algumas metas importantes”, resume o pesquisador do IBGE, William Kratochwill.
Acesso à creche: ritmo lento e barreiras culturais
O PNE estabelece que, até dezembro de 2024, ao menos 50% das crianças de até 3 anos devem estar matriculadas em creches ou pré-escolas. Em 2024, o percentual foi de 39,8%, um avanço em relação a 2016 (30,3%), mas ainda distante da meta.
Apesar do crescimento, o ritmo é insuficiente. E há um fator cultural em jogo: segundo o IBGE, a principal razão para a não matrícula não é a falta de vagas, mas a decisão das próprias famílias.
Entre as crianças de até 1 ano que não frequentam creches:
– 63,6% estão fora da educação infantil por opção dos pais ou responsáveis;
– 30,1% não estão matriculadas por falta de vagas ou unidades disponíveis;
– 6,3% por outros motivos.
Na faixa de 2 a 3 anos:
– 53,3% ficam fora da creche por decisão dos pais;
– 39% devido à ausência de vagas ou instituições na região;
– 7,6% por outras razões.
“Os números indicam que o obstáculo para essa faixa etária é mais cultural do que estrutural”, avalia Kratochwill.
Frequência líquida: metas também não são cumpridas
A Pnad também mediu a frequência escolar líquida — isto é, o percentual de pessoas em determinada faixa etária que frequentam a etapa de ensino correspondente à sua idade.
6 a 14 anos (ensino fundamental): a meta do PNE é 95%. Em 2016, o Brasil já havia superado o objetivo (96,7%) e chegou a 97,1% em 2019. Com a pandemia, o índice caiu para 95,2% em 2022, recuando ainda mais para 94,6% em 2023 e 94,5% em 2024.
“A pandemia revelou a fragilidade dessa faixa etária no ensino remoto. O atraso na aprendizagem ainda deve levar tempo para ser superado”, explica Kratochwill.
15 a 17 anos (ensino médio): a meta é 85%, mas o índice chegou a 76,7% em 2024 — o melhor da série histórica, embora ainda 8,3 pontos percentuais abaixo da meta. Em 2016, era 68,2%, e em 2023, 75%.
18 a 24 anos (ensino superior): o objetivo é que 33% estejam cursando uma graduação. Em 2024, apenas 27,1% estavam matriculados, enquanto 4,2% já haviam concluído o ensino superior. Mesmo somando os dois grupos (31,3%), o total segue abaixo da meta.
Os demais jovens dessa faixa etária estavam distribuídos entre:
4,1% ainda cursando a educação básica;
64,6% fora de qualquer instituição de ensino.
Apesar disso, a frequência líquida de 18 a 24 anos mostra uma evolução: era de 22,4% em 2017 e chegou a 25,9% em 2023, antes de atingir os 27,1% atuais.