Rota do tráfico: há 2 anos aeronaves lotadas de cocaína eram interceptadas pela FAB em MS
Pilotos foram presos e condenados pelos crimes
Em 2 de agosto de 2020, duas aeronaves lotadas de cocaína foram interceptadas no espaço aéreo de Mato Grosso do Sul, após perseguição feita com os caças da FAB (Força Aérea Brasileira). Um avião transportava 450 quilos da droga e o outro 700 quilos e foram apreendidos após passarem pelo Estado, que é considerado rota do tráfico internacional.
A primeira aeronave foi interceptada a nordeste de Campo Grande. O avião EMB-720 Minuano foi obrigado a pousar em um aeroporto em Rondonópolis, no Mato Grosso, depois de ser interceptado pelos caças. O piloto foi preso por policiais federais e 450 quilos de cocaína apreendidos. Já a outra aeronave, modelo Baron B-58, foi interceptada a sudoeste de Campo Grande, sendo obrigada a pousar em Três Lagoas.
O piloto não obedeceu e fugiu, fazendo um pouso forçado em Ivinhema, após o trevo da entrada da cidade de Novo Horizonte do Sul, sentido a Naviraí. A primeira equipe a chegar no local foi a Força Tática, com apoio do Batalhão de Choque. A princípio, nenhum suspeito foi encontrado, mas buscas começaram a ser realizadas com apoio da FAB e Polícia Federal de Dourados.
Aeronaves interceptadas
A aeronave B-58 não tinha informado o plano de voo e a suspeita é que estivesse carregando drogas. Assim, aviões de caça A 29 e o Super Tucano do Esquadrão Flecha interceptaram o avião, dando ordem para fazer a aterrisagem. No entanto, quando se aproximava da cabeceira da pista, o piloto arremeteu e fugiu.
Policiais federais já estavam à espera nas proximidades da pista para fazer a prisão do piloto e a apreensão da aeronave. O bimotor, pilotado por Nélio Alves de Oliveira, de 70 anos, e Júlio César Lima Benitez, de 41 anos, foi localizado em Ivinhema, onde os suspeitos foram presos.
Ainda de acordo com a polícia, após o monomotor modelo EMB-720 Minuano ser interceptado, a Polícia Militar de Coxim recebeu informações de mais suspeitos na zona rural do município. Em uma propriedade, a equipe localizou dois homens com armas de fogo e um helicóptero Robinson R-44, preparado com tanque de Avgas (gasolina de aviação) para abastecimento de aeronaves.
A suspeita é de que eles estivessem dando apoio aos pilotos abordados inicialmente, o que demonstra estrutura organizada do tráfico de drogas.
Rota do tráfico internacional
Nélio Alves e Julio Cesar foram condenados pela 1ª Vara Federal de Dourados. A análise de um iPad, GPS e de dois celulares conseguiu identificar coordenadas de uma pista de pouso na Bolívia – onde estiveram 2 dois dias antes da prisão –, “o que indica que a droga era proveniente daquele país”, enquanto anotações indicavam coordenadas de pistas de pouso em São Paulo (SP), possível destino do carregamento.
Já dentro do processo, Nélio disse desconhecer o conteúdo da carga, pensando que transportava celulares e, ao final, ao ser abordado pela Força Aérea, pensou que poderiam ser drogas – o que o teria levado a se esconder após o pouso. Ele ainda afirmou que o valor a ser recebido (R$ 30 mil) seria “módico” perante o tráfico. Julio Cesar também afirmou que pensava transportar celulares, explicando que o voo partiu de Amambai.
O juiz rebateu a tese de que a dupla não seria responsabilizada pelo tráfico se alegassem que a carga seria de celulares. “Ora, sabiam que era ilícito o frete que faziam. Não desejaram perquirir o frete, mas sim, auferir os ganhos dele decorrentes. Houve, sim, dolo eventual porque a eles pouco importava o que transportava, eletrônicos, celulares, droga, cocaína, cigarro, não deixou de agir”, anotou a sentença, que ainda considerou “no mínimo, cabulosas as versões apresentadas sobre o transporte”.
“Não é crível que dois pilotos, com experiência, aceitassem levar uma carga sem ao menos inspecionar seu conteúdo, para confirmar que se tratava de produtos eletrônicos, conforme alegam que foram contratados”, reforçou a sentença.
As autoridades ainda encontraram na casa de Nélio informações sobre o reparo de uma aeronave que acabou apreendida durante a Operação Cavok – que apurou o tráfego de drogas. Na de Julio, além de armas e munições, foram encontrados R$ 84,9 mil e US$ 10,1 mil em um cofre, e outros US$ 10,5 mil.
Na bolsa de mulher que estava na casa, havia anotações sobre serviços de aviação agrícola apontando faturamento de US$ 300 mil, o que foi interpretado como dinheiro do tráfico. Nélio, que já foi condenado por tráfico em duas oportunidades, foi sentenciado a 8 anos e 6 meses de reclusão em regime fechado – mesmo tendo mais de 70 anos –, graças aos agravantes, e ao pagamento de 862 dias-multa. Julio Cesar também teve pena de 8 anos e 9 meses de reclusão e em regime fechado, com pagamento de 890 dias-multa.
FONTE: Mídia Max