Reserva de Dourados faz 121 anos: ‘Vou continuar com a minha língua e minhas rezas’, diz cacique
Reserva indígena foi fundada em 1902 e contou com ritual de celebração neste domingo
No aniversário de 121 anos da Reserva Indígena de Dourados, em Mato Grosso do Sul, além da luta contra violência, cacique enfrenta batalha pessoal para manter tradições culturais vivas na memória dos moradores, principalmente dos mais jovens. A data foi comemorada neste domingo (4) na Aldeia Jaguapiru.
Com ritual discreto embalado por cânticos ancestrais e danças, comandadas pelo Nhanderú Getúlio Juca, de 81 anos, e pela Nhandesy Alda de Oliveira, de 77, a comunidade lembrou a fundação da reserva em 4 de junho de 1902.
“Já teve momento que pensei em largar diante do desinteresse dos nossos jovens e da falta de apoio das autoridades. Mas não podemos deixar as coisas cair no esquecimento por isso vou continuar com a minha língua e minha em defesa do meu povo sofrido”, conta Getúlio em conversa com a reportagem do Midiamax.
O rezador mostrou fotos antigas dos antepassados e também da primeira residência erguida na aldeia de 3.600 hectares da área concedida por meio do decreto assinado pelo então presidente do Estado de Mato Grosso, general Caetano Manoel de Faria Albuquerque.
Filho de Rubito Juca e Loide Juca, é nascido na Jaguapiru e conta que se tornou rezador um pouco antes de completar 30 anos de idade. “Passei mais de anos estudando a religião do meu povo. Nesse tempo enfrentei muitas batalhas”, conta Getúlio que ouviu relatos do avô sobre o início da Reserva Indígena de Dourados.
“Fico triste ao ver o descaso dos parentes mais jovens”
As atividades deste domingo aconteceram na frente da Casa de Reza e também foi marcada pela presença da nova coordenadora da Funai (Fundação Nacional do Índio de Dourados), professora Teodora de Souza Guarani. A professora indígena tomou posse no cargo neste sábado (3).
“Temos que valorizar nossa história, por isso que estamos aqui para lembrar a fundação da Reserva Indígena de Dourados e ver a melhor maneira de auxiliar o nosso povo com os poucos recursos que temos”, disse Teodora conclamando os moradores para não deixar a cultura indígena cair no esquecimento.
A Nhandesy da Casa de Rezas, Dona Alda, como é conhecida, também fez um apelo para os moradores mais jovens. “Fico muito triste ao ver o descaso dos parentes mais jovens pelas tradições dos nossos ancestrais. Se a gente não se preocupar, todas essas nossas riquezas podem desparecer”, disse a rezadeira, que também luta para transmitir o que aprendeu desde criança.