Quem vê mansões e 90 mil seguidores, nem imagina que corretora escondia Biz dos clientes

Quem vê mansões e 90 mil seguidores, nem imagina que corretora escondia Biz dos clientes

Graziele conta que chegou a passar fome em momentos difíceis, mas teve reviravolta e hoje é uma das profissionais mais renomadas de Campo Grande

É só dar o play em qualquer vídeo que você não sabe para onde olha: imponentes portas das mansões se abrindo e revelando cenários paradisíacos, a corretora cujo caminhar e vestimenta elegantes vão te atraindo a cada passo ou então a arquitetura impecável em imóveis de luxo de Campo Grande. Sabendo disto, de Grazi para Grazi, já fui direto ao assunto: como você se tornou especialista neste ramo, alcançando a marca de 90 mil seguidores?

A resposta inicial é aquela clichê, usada por muita gente: ‘A história é bem longa’. Mas, em pouco mais de duas horas de conversa, os detalhes foram se revelando e trazendo à tona uma profissional que chegou a Mato Grosso do Sul sem dinheiro, sem emprego e que passou por diversas provações para ser a profissional que é hoje.

Dá pra imaginar que Graziele Fialho, de 39 anos, chegou a passar fome? Que ficou doente a ponto de escrever uma carta para mãe e dizer que estava desistindo de tudo? Que comprou uma biz e deixava escondida dos clientes ou então pagava um trocado a mais, ao motorista de aplicativo, para acompanhá-la enquanto mostrava 4 a 5 casas de um condomínio? Isto tudo sempre de terninho e salto alto.

Corretora na entrada da casa de um cliente, em Campo Grande. Foto: Graziele Fialho/Arquivo Pessoal
Corretora na entrada da casa de um cliente, em Campo Grande. Foto: Graziele Fialho/Arquivo Pessoal

Em seis anos, no entanto, a profissional deu uma reviravolta e agora possui o próprio escritório e apartamento mobiliado exatamente como queria, o carro dos sonhos e uma equipe que a ajuda nas vendas das mansões, na elaboração e postagem de vídeos para as redes sociais, escolha das trilhas sonoras e agilidade com toda documentação para os clientes.

“Eu vim do interior de São Paulo, em 2003. Lá, várias vezes escutei pessoas falando que Campo Grande era uma cidade boa e eu decidi vir pra cá. Não tinha nenhum motivo específico, só sei que isso ficou na minha cabeça. Minha mãe falou que eu estava doida na época, só que peguei minhas coisas, aos 17 anos e vim tentar a vida aqui. Fiquei em um hotel perto da antiga rodoviária e fui buscar oportunidades no comércio”, relembrou.

Corretora atuou no comércio e na área da saúde antes de descobrir a profissão

Já empregada, Grazi alugou uma kitnet perto da Praça das Araras. “Fiquei uns quatro anos no comércio e depois fui para a área da saúde, em um clínica hospitalar. Fiquei na recepção, até que me tornei auxiliar de um médico. O médico foi um pai para mim, principalmente porque eu cheguei crua, falando e escrevendo errado. Ele me deixou do jeito que ele queria, era um japonês metódico e depois brincou falando que eu era a sombra dele”, comentou.

Nessa época, Graziele falou que aprendeu muito sobre a área de saúde, a ponto de saber o resultado de um exame somente olhando no olho do médico. “A gente já tinha uma sintonia ali. Eu me simpatizei muito com ele. Perdi meu pai cedo, aos 15 anos, então eu não tinha mais referências e ele se tornou essa referência para mim. Mas, tive gastrite na época e voltei para Presidente Epitácio. Fui e voltei umas três vezes para Campo Grande, sempre começando do zero. Minha família sabia que eu ia voltar toda vez”, disse.

Corretora faz postagens diárias de casas e edifícios de alto padrão de Campo Grande. Foto: Redes Sociais/Reprodução
Corretora faz postagens diárias de casas e edifícios de alto padrão de Campo Grande. Foto: Redes Sociais/Reprodução

Em uma das viagens, Grazi conta que também foi com a mãe para Portugal. “Lá também não deu certo e minha mãe retornou para SP e eu para MS. Nesta última vez, não tinha dinheiro nem para passagem e uma amiga minha lá da Irlanda quem ajudou. Fiquei em pensionato e repúblicas. No total, morei 8 anos com 4 amigas, até duas se formarem e restar só eu e mais uma”, argumentou.

Como saiu de “portas abertas”, a jovem buscou uma nova oportunidade na clínica hospitalar em que trabalhava. “O médico me aceitou novamente e, desta vez, iniciei o curso de técnico de enfermagem. Fui influenciada pelo ambiente que vivia, mas, acabei que não me formei e troquei para comissária de bordo. Este eu terminei, porém, nunca exerci também”, explicou.

Quando o médico saiu da clínica, Grazi também saiu e foi em busca de novas oportunidades. “Trabalhei em dois hospitais e, por último, fiquei na auditoria hospitalar. É lá que eu liberava exames, diárias, medicamentos, sabia de toda a rotina de um paciente. Foi neste período que conheci uma pessoa, por conta destes trâmites mesmo. Todo mundo ficou comovido com a situação dele e, após alguns meses, começamos a conversar”, disse.

Corretor está sempre elegante e mostra o carro dos sonhos que conquistou em MS. Foto: Redes Sociais/Reprodução
Corretora está sempre elegante e mostra o carro dos sonhos que conquistou em MS. Foto: Redes Sociais/Reprodução

O rapaz, que seria seu futuro namorado, era corretor de imóveis. “Eu sempre fui muito religiosa, já frequentava a igreja lá em Epitácio e, quando começamos a ficar juntos, me batizei na igreja dele também. Só que ninguém me aceitava, sofri preconceito logo que a gente se conheceu e isso me deixou doente, com depressão, eu queria aquela aceitação das pessoas”, relembrou.

Neste período, Grazi diz que passou de 72 para 54 kg e chorava com o sonho de ter “uma vida normal”. “Eu tive síndrome do pânico também, até que fiquei afastada do hospital. Uma colega chegou a ligar para minha mãe, dizendo: ‘Vem buscar sua filha, ela não está bem’. Para não ficar somente em casa, o namorado disse que era para ela ficar na imobiliária durante o dia”, comentou.

Ao ajudar ex-namorado em imobiliária, Grazi fez a venda de um apartamento

No local, a jovem se sentia aceita pelos demais. “Eu ajudava a cuidar do filho do meu namorado, então, ali, pelo menos, eu me sentia aceita. Sabiam que eu estava ajudando. Foi quando quis fazer a formação de corretora de imóveis também. Antes de terminar, já tinha feito um perfil nas redes sociais e lá postava os imóveis. Foi quando um amigo meu deixou de comprar um apartamento de um corretor para comprar comigo”, contou.

Corretora durante mentoria em São Paulo, ao lado de colegas e uma corretora que pediu para conhecê-la. Foto: Graziele Fialho/Arquivo Pessoal
Corretora durante mentoria em São Paulo, ao lado de colegas e uma corretora que pediu para conhecê-la. Foto: Graziele Fialho/Arquivo Pessoal

A primeira venda foi um grande incentivo. “Logo depois, recebi uma mensagem de uma pessoa pedindo para eu vender uma casa no Damha. Vendi o meu primeiro imóvel de luxo, em um prazo de 3 meses. O mais engraçado foi na hora de receber. Meus amigos até hoje dão risada quando eu conto esta história. Não estava acostumada com aquele dinheiro, então, falei pro meu gerente da época que tinha algo errado”, brincou.

Já formada como corretora de imóveis e com salário mais alto, Grazi e o namorado fizeram uma viagem para Fortaleza. “Foi maravilhoso. Só eu, ele e o filho dele, que eu sempre fui apaixonada. Me chamava de tia Gagá ele. Na volta, começamos a falar em casamento e em construir a nossa história, até que tudo mudou e ele terminou o relacionamento, dizendo que pensou bem, que não era bem aquilo”, comentou.

“Foi difícil, parecia um pedaço de mim se arrancando. Continuei trabalhando, só que em home office. Uma vez ou outra só que eu aparecia no escritório por conta de documentação. E as oportunidades foram aparecendo, vendi um imóvel de alto padrão, porteira fechada, em menos de 15 dias. Era o cliente certo na hora certa”, relembrou.

Ao mesmo tempo, mesclando as emoções com momentos de alegria e tristeza, a corretora passou a cursar Teologia. “Foi lá que eu entendi que tive todo um preparo para ser a profissional que eu sou hoje. Fiquei três anos em obediência, firme no meu propósito. Não tive nenhum relacionamento e ainda procurei esse antigo namorado para pedir perdão. Algo me dizia para ir falar com ele”, contou.

O encontro de ambos ocorreu no plantão de vendas de um condomínio. “Fui pedir desculpas, só que na verdade ele quem queria me fazer esse pedido. Ele chorou, tivemos uma conversa longa e de libertação e a gente se perdoou. Foi um alívio, senti que a minha vida começaria realmente a andar a partir dali. Fui conversar com um amigo fotógrafo também e decidi investir bastante no meu profissional”, falou.

‘Fiquei 15 anos vagando até achar um direcionamento’, fala corretora

Curada da depressão, Grazi considera que ficou 15 anos “vagando” até encontrar um direcionamento na vida. “Estou há pouco mais de seis anos na área e considero que, nos últimos quatro, tive um boom. Agora, na pandemia, me especializei em condomínio fechado. É um momento em que as pessoas estavam prestes a surtar, com crianças trancadas em apartamentos e sem lazer algum”, disse.

A corretora então montou o próprio escritório. Há 2 meses, ela está em um endereço novo, em um edifício comercial renomado da cidade. “Montei a minha equipe e tudo isso fez passar um filme na minha cabeça. Daquela menina que lutou muito, que fazia escovas nas colegas por R$ 10, na hora do almoço na clínica e bicos como cerimonial e modelo. Hoje recebo mensagens de gente de todo o país e histórias impressionantes, de quem se inspira e até sonha em me conhecer”, argumentou.

Corretora conta que recebe mensagens de fãs diariamente

Em fevereiro deste ano, Grazi inclusive foi em um encontro de corretores e realizou o sonho de outra mulher, também corretora, que queria conhecê-la e pediu uma foto. “Há alguns anos, ensinei o passo a passo para ela e anos depois ela me procurou, dizendo que teve a vida transformada e era muito agradecida pela minha vida. Foi um momento especial e até o mesmo carro que o meu ela comprou, ressaltando o quanto fui fonte de inspiração para ela”, disse.

Corretora mostra algumas das mensagens que recebe dos porteiros e funcionários dos prédios. Foto: Redes Sociais/Reprodução
Corretora mostra algumas das mensagens que recebe dos porteiros e funcionários dos prédios. Foto: Redes Sociais/Reprodução

Para ela e outros amigos, Grazi relembra quando chegava de biz e salto alto nos condomínios. “Eu chegava sempre bem antes que os clientes. Muitos porteiros sabem da minha história. Deixava a moto bem longe e ia caminhando. Na portaria, entrava com os clientes no carro ou então chamava um Uber e pedia para ele me acompanhar até a última casa. Engraçado que alguns clientes perguntavam como eu ia embora e eu dizia que tinha alguém me esperando”, relembrou.

Atualmente, muitos porteiros enviam mensagens diretamente para ela. “Eu não procuro mais clientes. Eles me ligam, muita gente fala do meu nome, fala que sou referência. E eu sei que são muitos porteiros que ajudam também, então, eu honro a vida deles, tenho amizade, compro presentes no final do ano e lembro como eles vibraram quando viram o meu primeiro carro”, contou.

Nas redes sociais, quando abre caixinhas de perguntas para os seguidores, Grazi recebe perguntas se tem alguma personal stylist, se é cristã e como ela lida com os ciúmes dos maridos, por exemplo. “Eu respondo tudo. Conto que sou eu mesma quem escolho as roupas, quem arruma os cenários para gravar os vídeos e que, em 90% dos casos, é a mulher quem decide, quem bate o martelo, então, direciono a minha conversa para ela. Não tem segredo, é ser profissional o tempo todo”, argumentou.

Questionada, se ainda tem um sonho, Grazi é enfática: “Sim, ser mãe. Aflorou muito esta vontade, mas, não sei. O tempo está passando, mas, penso que, para Deus, nada é impossível. Alguns homens se assustam quando conhecem uma mulher livre e independente. Se não acontecer, tudo bem também. A profissão já toma muito tempo e penso que não é fácil criar um filho hoje em dia. Na realidade, eu trabalho com sonhos. Essa é a minha marca: realizando sonhos. E já sou feliz demais por toda esta transformação na minha vida e da minha família”, finalizou.

FONTE: Mídia Max

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