Primeiro dia de júri pelo assassinato do ‘Playboy da Mansão’ termina após 8 horas
Julgamento pela morte de Marcel Costa Hernandes Colombo tem esquema de segurança montado no fórum
Após oito horas de sessão, terminou o primeiro dia de julgamento do caso de Marcel Costa Hernandes Colombo, conhecido como ‘Playboy da Mansão’, no Fórum de Campo Grande, nesta segunda-feira (16). Marcel morreu ferido a tiros em outubro de 2018.
Jamil Name – que morreu na Penitenciária Federal de Mossoró em 2021 -, Jamil Name Filho, Marcelo Rios, Rafael Antunes, José Moreira – que morreu em troca de tiros no Rio Grande do Norte -, Juanil Miranda e Everaldo Monteiro de Assis são réus pelo crime.
O julgamento deve durar quatro dias e estavam previstas 19 testemunhas em plenário. Contudo, quatro desistiram de prestar depoimento na tarde desta segunda (16), enquanto a Promotoria dispensou outras duas testemunhas durante o júri.
No plenário, prestaram depoimento os delegados Tiago Macedo e João Paulo Natali Sartori, bem como o investigador de polícia, Giancarlos de Araújo e Silva, testemunhas de acusação. Das testemunhas de Jamil Name Filho arroladas pela defesa, apenas Marcelo Oliveira compareceu e respondeu às perguntas dos jurados.
Questionado pela reportagem do Jornal Midiamax, o advogado que representa a defesa de Jamil, Pedro Paulo Sperb, explicou que demonstra a inexistência provas. “Não existem elementos que levem ao que consta na denúncia. É isso que a gente vai mostrar com as testemunhas que já foram ouvidas, com as que foram ouvidas em plenário e todo o conjunto probatório”.
Já sobre a desistências de algumas testemunhas, um dos promotores que atua no júri afirmou que será usado apenas o depoimento dado em juízo. “As testemunhas roladas aqui para ser ouvidas em plenário foram ouvidas em juízo e em razão disso optamos por utilizar o depoimento deles em juízo até para que os jurados não se cansem. E nós temos um julgamento já que os depoimentos seriam basicamente os mesmos”.
Certeza de impunidade
O investigador relatou em plenário o modo de agir da organização criminosa envolvida no assassinato de ‘Playboy da Mansão’ e disse até que já sofreu ameaças de Jamil Name durante audiência. Também contou que o grupo estava tão enraizado em Mato Grosso do Sul que tinha certeza da impunidade. Contudo, o trabalho de investigação continuou.
“Mesmo sabendo dessas consequências, continuamos o nosso trabalho. Até a mão de obra utilizada para a execução dos crimes era diferenciada, se utilizavam de um braço armado que sabia como funciona a construção de provas e como matar. A organização estava tão enraizada no nosso estado, com braços em vários setores, que eles tinham certeza da impunidade. Eles só não contavam com o nosso trabalho que seguiu mesmo conosco sabendo das consequências”, relatou o investigador.
Mais cedo, o advogado de defesa de Marcelo Rios, Márcio de Campos Widal Filho, questionou o delegado João Paulo Sartori. A pergunta da defesa foi em relação a um bilhete, que integrava as investigações da Operação Omertà, com detalhes sobre um plano de atacar autoridades envolvidas no caso.
O advogado questionou sobre o que seria uma perícia grafotécnica. Assim, Sartori respondeu que a pergunta foge do motivo que o levou a prestar depoimento e que está naquele tribunal para falar sobre crime. “Não estou aqui para falar sobre questões técnicas e, sim, sobre crime”, falou.
Rios teria recebido R$ 50 mil para matar ‘Playboy da Mansão’ dentro de cadeia
Macedo disse que Marcelo Rios, o ex-guarda municipal, recebeu R$ 50 mil para matar Marcel Colombo dentro da cadeia, depois da prisão de ‘Playboy da Mansão’ por descaminho. Mas como não conseguiu matar dentro da cadeia, teve de fazer o ‘serviço’ quando Marcel foi solto.
“A organização mata os pistoleiros que fazem cagada”, disse o delegado. Ainda segundo o delegado, o contador Elton Pedro, que também fazia levantamento de informações para a família Name, teria pesquisado sobre a vida de Playboy da Mansão.
Defesa de Everaldo pediu desmembramento
Jail Azambuja, advogado de Everaldo, falou sobre a perícia não feita em áudios juntados no inquérito, pedindo pelo desmembramento e adiamento do julgamento.
“Relativo à perícia insisto que não foi realizada. Existe a necessidade da perícia desse material integralidade, e ainda necessário talvez desmembramento do júri”, disse a defesa.
A defesa ainda falou que é necessário que Everaldo seja julgado em outro momento. “No sentido de que quando deferiu o alargamento do prazo, o inquérito era de 6 mil páginas e hoje tem mais de 10 mil páginas. O réu tem direito à defesa efetiva e plena e o tempo é essencial”, disse.
‘Volume de provas absurdo’
O promotor Douglas Oldegardo, que atua na acusação do júri do caso de Marcel Costa Colombo, disse ao Midiamax que o ‘volume de provas contra os réus é absurdo’.
“Não há dúvida nenhuma, o volume de provas técnicas é verdadeiramente absurdo, felizmente nós vamos ter um bom número de dias para exibir isso para o Conselho de Sentença através da inquirição de testemunhas e nós teremos, inclusive, o tempo dilatado”, disse Oldegardo.
O promotor ainda falou que “muito da prova vai ser produzida antes dos debates, através dos depoimentos, de forma que por ocasião do processo dialético que vai se desenvolver entre acusação e defesa nós poderemos discutir esta prova, que já vai ter sido produzida, fornecendo ao Conselho de Sentença já uma percepção mais apurada a respeito daquilo que o processo contém, proporcionando à sociedade uma decisão mais sólida e mais consciente”.
Jamil Name Filho vai ser ouvido por videoconferência. Já os outros réus estarão presentes no plenário do júri. Como no primeiro julgamento no ano passado, este júri também terá esquema de segurança montado. Ao todo, 19 testemunhas serão ouvidas
O juiz proibiu manifestações no plenário, e camisetas ou cartazes com fotos ou frases sugestivas. “Não é custa relembrar que, dentro do Plenário na área interna do Fórum, não será permitida a manifestação, ainda que de forma subliminar, como uso de vestimentas, cartazes, incluindo fixação em grades, fotos ou frases sugestivas de condenação ou absolvição, assegurando-se, com isto a total isenção dos jurados e, sobretudo, a ordem do julgamento”.
‘Playboy de Mansão’
A denúncia apresentada pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) relata como foi planejado e executado o crime. Naquela ocasião, Marcel estava em uma cachaçaria, na Avenida Fernando Corrêa da Costa, quando foi atingido pelos disparos.
Ainda segundo o MPMS, o crime foi executado por Juanil, com auxílio de Marcelo Rios, José Moreira e Everaldo Martins. Isso tudo a mando de Jamil Name e Jamil Name Filho. Além disso, em um erro na execução do crime, um outro homem que estava no local também foi atingido por um disparo.
Por fim, foi apurado que Rafael Antunes foi o responsável por ocultar a arma do crime, com participação indireta. Também foi relembrado na denúncia que a motivação do crime foi por um desentendimento entre Marcel e Jamil Name Filho em uma boate de Campo Grande. Naquele dia, Marcel teria agredido Name com um soco no nariz.
Marcel foi assassinado em 2018, mas a rixa entre o ‘Playboy da Mansão’ e Name começou em 2016, quando os dois se desentenderam por causa de balde de gelo. Em 2021, Jamil Name Filho negou ser o mandante da morte, mas confirmou o atrito e deu detalhes.