Patrimônio Cultural em Dourados, puchero é sucesso no frio e tem receitas peculiares

Patrimônio Cultural em Dourados, puchero é sucesso no frio e tem receitas peculiares

Basta a temperatura cair um pouco e o douradense logo já diz: “Tempo bom para fazer um puchero”. A frase é bastante comum também em todo o Mato Grosso do Sul e diante de tanta fama, o Dourados News buscou pessoas que costumam fazer o prato para saber um pouco sobre o preparo do mesmo e também mais sobre a história. 

O nome Puchero veio do latim e era como as pessoas chamavam as panelas em tempos antigos, conforme o historiador Carlos Magno Mieres Amarilha. O prato tem origem espanhola e ganhou notoriedade principalmente na América do Sul, no Uruguai, Argentina, Paraguai e no Brasil, principalmente no estado de Mato Grosso do Sul. 

Em Dourados, a Lei nº 065/2017 afirma que o Pucheiro “puchero” (comida típica) é um Patrimônio Cultural Imaterial do município de Dourados.

A pecuária sendo uma das atividades fortes da região e o baixo custo dos ingredientes impactam no sucesso. 

“Tornou-se um prato tradicional que muitas pessoas podem se deliciar, pelo preço acessível. Antigamente quando os fazendeiros e demais moradores carneavam os bois/vacas, separavam os ossos para fazerem o puchero e assim, acabou sendo um ícone de pertencimento da identidade douradense, e depois Patrimônio Cultural Imaterial de Dourados”, conta o historiador Carlos Magno Mieres Amarilha. 

A tradição faz parte do trabalho de Paulo Amaro Ferreira, 64, conhecido como “Fidipreto” há mais de 30 anos.

Ele prepara puchero para os populares para retirada de marmitas ou ainda sob encomenda e também para eventos. Tudo começou quando ele trabalhava como bombeiro militar e preparava o caldo para comemorações dos colegas de trabalho e então começou a ouvir o questionamento “por que não faz para vender?”. 

Atendendo aos pedidos, ‘Fidipreto’ passou a fazer o prato para venda e o sucesso já dura décadas. 

“Não dá para quem quer. Às vezes começamos a atender 18h e em questão de minutos já não tem mais”, conta.

Ele conta que são cerca de seis horas do preparo do prato, considerando o tempo de cozinhar os ossos com carne no fogão a lenha, bem como a mandioca e adicionar os demais ingredientes como cebola, tomate, cenoura e cheiro verde. Questionado sobre o segredo, ele aponta “paciência” e “amor”. 

“Tem que saber que não vai ser rápido, então tem que observar os ingredientes e fazer com amor, isso é o principal. Penso que fazer comida para as pessoas, não tem coisa melhor. É um dom que Deus deu pra gente”. 

Para dar conta de atender os amantes do caldo, Fidipreto conta com a ajuda dos filhos Pollyana Rebeque, Paulo Henryk, da esposa Rosalina Rebeque e da assistente Neusa Ozuna na produção. 

Pollyana Robeque destaca que basta esfriar em Dourados e o telefone não para. E não precisa a temperatura cair muito não, pois qualquer “vento sul” já é desculpa para os populares buscarem se esquentar com a iguaria.

“Tem vezes que não damos conta de tanto pedido nesse frio que está fazendo- a quinta-feira marca 8 graus no município-, mas tem época que só de dar uma amenizada no calor, já tem encomenda, não importa a data, o mês” conta. 

E como “segredo” da marca fidipreto, ela aponta que já há alguns anos, a família adotou por servir o prato sem ossos, o que caiu no gosto dos populares.

“O pessoal gostou mais sem os ossos. Fica mais fácil de servir na combuca. Mas quando querem com ossos também fazemos” conta, ao destacar que a equipe busca sempre trabalhar com a forma mais “raiz” do prato. 

Pollyana conta que outro aspecto que a população sul-mato-grossense acredita é que o prato por ser feito a base de caldo de ossos ajuda no consumo de colágeno e minerais.

“Dizem que é energia para os novos e para os mais velhos também”, destaca. 

A padeira Vanessa Tairine de Lima, 30, também ama preparar o caldo, principalmente no inverno.

Ela conta que mais que alimentar, fazer puchero é um momento de para reunir a turma toda entorno do panelão. 

“Eu amo cozinhar e o puchero é tradição no frio. Todo mundo quando esfria logo lembra e aí a gente reúne perto do fogão a lenha, que é melhor para fazer, dá mais sabor e gasta menos e fica mais saboroso e é um momento gostoso e também de espantar o frio”, conta. 

Recentemente, Vanessa diz ter feito o prato para a cerca de 60 pessoas em um evento da igreja e a opinião do público parece ser unânime. 

“Todo mundo adora e sempre quer levar um pouco para casa”, conta. 

Diferente da receita tradicional, a padeira conta que gosta de acrescentar milho verde, repolho e couve picada ao prato. Para combinar, ela destaca o arroz, torradas, pimenta e farofa. 

“Eu gosto de aproveitar e colocar alguns legumes, dar um toque. O legal também é que cada um tem sua forma de fazer”, diz. 

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