De todos os povos: Dourados vira lar para imigrantes que buscam novas oportunidades
A maior cidade do interior do Estado é de todos os povos. Conhecida como polo universitário, agropecuário e industrial, Dourados é adotada por muitos que veem aqui, a esperança de recomeçar, progredir ou até mesmo encontrar um lar.
De acordo com censo de 2023 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do município chegou a 243.368 mil habitantes. E, conforme a Coordenadoria Especial dos Imigrantes, quatro mil pessoas de outros países vivem na cidade.
A maioria são da Venezuela, Haiti, Paraguai, Senegal, Angola, Marrocos, República Dominicana, Argentina, Uruguai e Colômbia.
Inclusive, em 2022, a prefeitura recebeu o certificado MigraCidades, pelo terceiro ano consecutivo, devido ao acolhimento de mais de quatro mil pessoas.
O documento concedido pela OIM (Organização Internacional para as Migrações), agência da ONU (Organizações das Nações Unidas) para migrações, avalia que o município cumpriu as diversas etapas do processo de governança migratória.
Além disso, Dourados já recebeu 3.513 imigrantes da Venezuela por meio da Operação Acolhida, iniciada em 2018. Segundo o Ministério da Cidadania, o município foi o destino do quarto maior efetivo no país, ficando atrás apenas Curitiba (PR), com 5.601 venezuelanos, Manaus (AM), com 5.331 imigrantes, e São Paulo (SP), com 4.480.
A venezuelana Nayeska Alejandra Carrillo Figuera, 21, é uma das imigrantes que encontrou em Dourados uma nova e importante oportunidade, estudar. Acadêmica de enfermagem da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), ela reside na cidade há dois anos.
Atualmente, a jovem que veio de Edo Bolivar, Ciudad Guayana, mora no Jardim São Pedro com a mãe, que chegou primeiro em Dourados. Ela conta que a cidade possibilitou o seu ingresso em uma universidade pública e também de conhecer novas pessoas.
Nayeska relata que está em processo de adaptação, o que às vezes é complicado, por ser um ambiente totalmente diferente. Entretanto, ela cita a gentileza do povo douradense, “todo mundo aqui é muito gentil e quando tem gente nova, a maioria das pessoas ajuda e está lá para nós que não sabemos de nada”.
Questionada sobre as maiores diferenças entre Dourados e o seu país de origem, a jovem aponta “o sistema de saúde, os transportes e o resto funcionam muito melhor, a segurança também é algo a destacar porque no meu país ninguém sabe o que significa sentir-se seguro”.
Para o futuro, após se formar, ela planeja procurar oportunidades de trabalho em outras cidades do país, “um dos meus planos é conhecer o Brasil inteiro, então nada melhor do que fazer meu trabalho, que é algo que sei que vou adorar”, afirmou.
* Jean Kenson Julne
O haitiano Jean Kenson Julne, de 33 anos, também encontrou em Dourados uma oportunidade de se profissionalizar ainda mais. Com duas formações anteriores e fluente em cinco idiomas, atualmente ele cursa Relações Internacionais na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados).
Segundo o intérprete, que reside há seis anos na cidade, o diploma brasileiro é muito valioso em outros países, por isso, veio para o Brasil e retornou à universidade.
A escolha de Dourados para viver foi especificamente por conta das faculdades renomadas e por ser uma cidade tranquila.
Ele conta que chegou sozinho, mas conseguiu formar uma rede de apoio, inclusive, com outros haitianos que chegaram antes. Na época, montaram associações para buscar assistência e, pouco tempo depois, se tornou uma liderança entre vários imigrantes.
Jean relata que apesar de já ter um bom currículo profissional e ser intérprete, a cidade possibilitou que ele alcançasse uma condição financeira e social que nunca teve anteriormente, “Dourados mudou a minha vida por completo”, enfatiza.
“Me sinto em casa, Dourados é a minha cidade, onde adquiri tudo que tenho hoje em dia, então sou grato, de verdade muito grato”, comentou o professor de idiomas.
*Eli Eliel Velasquez Lozano
Ao contrário dos demais entrevistados, o pastor da Igreja Presbiteriana, Eli Eliel Velasquez Lozano, 56, nasceu no Peru e veio para a segunda maior cidade do interior de Mato Grosso do Sul por conta de um trabalho missionário e aqui, viu a família crescer porque os dois filhos casaram com douradenses.
Ele conta que a primeira vez que esteve na cidade foi em 1997, acompanhando um grupo folclórico. E a segunda vez que foi convidado para a missão no Brasil, especificamente em Dourados, completou cinco anos no dia 14 de dezembro de 2023.
“O motivo de estar em Dourados é pelas vidas, é pelas pessoas. Nós transmitimos uma palavra de esperança, de amor, resgatando e valorizando os valores que estão se perdendo hoje em dia”, explicou o pastor peruano.
Eli cita que na cidade teve a oportunidade de trabalhar com o povo indígena e já atendeu cerca de 80 crianças da Aldeia Jaguapiru, por meio do projeto “Criança no caminho bom”. A ação realizada por meio da igreja começou em fevereiro de 2019.
O pastor relembrou de quando o município recebeu vários venezuelanos na Operação Acolhida e comentou, “eu acho muito interessante o calor humano do douradense, é muito receptivo, muito amigável e gosta de poder ajudar as pessoas”.
Legenda da 3ª foto: UEMS realiza programa de Acolhimento linguístico, humanitário e educacional para imigrantes