Com metade de venezuelanos, Mato Grosso do Sul registrou entrada de 5,1 mil imigrantes em 2023

Com metade de venezuelanos, Mato Grosso do Sul registrou entrada de 5,1 mil imigrantes em 2023

Maior parte dos registros de entrada de imigrantes é de venezuelanos. Paraguaios e bolivianos vêm na sequência

O surgimento de Mato Grosso do Sul é marcado pela migração. Além dos povos originários, o Estado teve os primórdios de sua história escritos por mineiros, nordestinos, gaúchos, japoneses, paraguaios, sírio-libaneses, bolivianos e outros grupos. Contudo, na atualidade, a ida e vinda de populações de outras regiões segue relevante.

Apenas no ano de 2023, a Polícia Federal registrou 5.170 pedidos de registro de imigrantes – no caso, estrangeiros – em estado de Mato Grosso do Sul. Os pedidos se referem ao cadastro para a emissão da RNM (Registro de Nacional Migratório), com dados do Sismigra (Sistema de Registro Nacional Migratório).

Destes, mais de 2,5 mil pessoas são oriundas da Venezuela – país que registra maior número de entrada de imigrantes no Estado naquele ano. Na sequência, solicitaram registro imigratório 2557 pessoas vindas do Paraguai; e 480 vindas da Bolívia.

Além disso, foram registradas pedidos de registro de pessoas vindas de diversos países como: Alemanha, Angola, Argentina, Bangladesh, China, Colômbia, Cuba, Espanha, Itália, Finlândia, França, Haiti, Honduras, Peru, Togo e outras.

No dia 25 de junho, celebra-se o Dia Nacional do Imigrante. A data é um convite para reflexão quanto às adversidades enfrentadas e também vencidas por quem, por vontade ou necessidade, migrou de um país para outro.

Venezuela é principal origem de imigrantes

Na atualidade, o principal fluxo migratório é advindo da Venezuela, devido, principalmente, à crise econômica enfrentada pelo país vizinho. É o caso de Mirtha Virgínia Carpio Diáz, de 52 anos, da cidade de Valência, estado de Carabobo, no Centro-norte da Venezuela. Ela veio para MS há cerca de 16 anos para Campo Grande, na companhia do esposo e da filha, 

Já naturalizada brasileira, ela é a presidente da Associação Venezuelana em Campo Grande, que tem como objetivo orientar, informar, apoiar a todos os venezuelanos e pessoas de outras nacionalidades de fala espanhola ou castelhana.

“Em nosso trabalho auxiliamos imigrantes em relação a como solicitar documentos, procurar vagas de trabalho, no sentido de integrá-los e, para isso, buscamos articulação com diversas entidades públicas, comitês, fazendo trabalho conjunto em prol da orientação, informação e apoio para nossos irmãos imigrantes”, destacou.

Recorde de registros em MS

Em 2022, Mato Grosso do Sul registrou um total de 6.067 trabalhadores estrangeiros, de acordo com o Relatório Anual 2023 do OBMigra (Observatório das Migrações Internacionais), em parceria com a Senajus (Secretaria Nacional de Justiça). 

Esse número é quatro vezes maior do que o registrado em 2013, quando havia 1.419 trabalhadores imigrantes no estado. Além disso, Mato Grosso do Sul superou seus vizinhos Mato Grosso e Goiás, com 5.614 e 3.017 trabalhadores imigrantes, respectivamente, no mesmo período.

Em março deste ano, a Superintendência Regional da Polícia Federal em Mato Grosso do Sul e a Sead (Secretaria de Estado de Assistência Social e dos Direitos Humanos) firmaram um acordo para promover o registro e a regularização dos imigrantes em Campo Grande.

A cooperação mútua visa união de esforços para a assistência e orientação dos imigrantes em Campo Grande, tem o objetivo de agilizar a regularização dos imigrantes de maneira célere e eficiente, de modo que facilite a submissão e trâmite dos respectivos requerimentos, permitindo melhor integração dos imigrantes no território nacional e na Capital.

Município também tem estratégia

Segundo divulgação da Sead, em 2023, o CADH (Centro de Atendimento em Direitos Humanos) realizou mais de 1,4 mil atendimentos em Campo Grande. 

Já a administração municipal mantém unidades de acolhimento para pessoas em situação de rua, migrantes e imigrantes. Essas instâncias oferecem apoio, moradia e assistência. Algumas delas são:

  1. UAIFAs (Unidades de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias): São duas unidades, cada uma com capacidade para atender até cem pessoas por dia.
  2. Casa de Passagem Resgate: Cofinanciada pela Prefeitura, oferece moradia e refeições para migrantes e imigrantes.
  3. Casa de Apoio São Francisco de Assis: Também cofinanciada, atende até 50 pessoas.

Além disso, a Prefeitura instituiu o Comitê Interinstitucional Municipal de Promoção, Proteção e Apoio aos Estrangeiros e Refugiados, visando criar políticas públicas específicas para essa população, incluindo diversas outras instituições envolvidas com o tema.

O Governo do Estado, por sua vez, criou em 2017, o Cerma/MS (Comitê Estadual para Refugiados, Migrantes e Apátridas no Estado de Mato Grosso do Sul), em proposição do CADH (Centro de Atendimento em Direitos Humanos), da Sedhast (Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho).

Há ainda iniciativas da sociedade civil organizada, como o Cedami (Centro de Apoio aos Migrantes), em Campo Grande, que possui 40 anos de existência. O local recebe pessoas que chegam à Capital e não têm condições de se hospedar ou, principalmente, não têm como se alimentar.

Fluxos migratórios

As imigrações paraguaia e boliviana, decorrentes da proximidade e fronteira com esses países, são algumas das mais perceptíveis, com influências econômicas, religiosas e culturais. 

Aqui formaram associações, clubes e deixaram um grande legado. Não há como pensar a capital de Mato Grosso do Sul sem elementos como o tereré, a chipa, a sopa paraguaia, a saltenha ou, ainda, ritmos como a polca e a guarânia.

Assim como estas, o fluxo migratório de famílias japonesas também se destacam na história de Campo Grande. Neste caso, a influência se fez tão presente que um prato típico japonês, o sobá, se tornou um prato típico local.

Destaca-se ainda a imigração turco-sírio-libanesa, iniciada a partir de 1912, com a chegada de imigrantes sírios, turcos, armênios e outros povos que fugiam dos conflitos no Oriente Médio. Tendo desembarcado inicialmente em Corumbá, depois passaram a se estabelecer diretamente em Campo Grande. Dentre tantas outras influências, o comércio na Avenida Calógeras é um dos destaques dessa influência e parte da história da cidade.

Todos estes fluxos migratórios trouxeram famílias das mais diversas partes do mundo, que aqui encontraram um lugar para recomeçar. Suas histórias e razões para migrar são distintas, mas todas contribuíram com suas riquezas para a diversidade da cidade.

Campanha solidária

A Associação Venezuela de Campo Grande está promovendo uma campanha solidária para montagem e doação de cestas básicas para imigrantes em situação de vulnerabilidade social. Além disso, são aceitas doação de móveis, roupas e brinquedos.

FONTE

admin

admin