‘Não posso me calar’: viúva rebate versão de que guarda foi morto em queima de arquivo
“Eu estava lá. Ninguém entrou na minha casa, como assim quem matou?”, é o questionamento da viúva do guarda municipal Fred Brandão dos Reis, 38 anos. Fred foi encontrado morto no quarto, com um tiro na cabeça feito pela boca, em 19 de abril de 2019 e o caso foi registado como suicídio. No entanto, investigação chegou a questionar se pode ter ocorrido um homicídio.
Ao Jornal Midiamax, a testemunha relatou como lembra do ocorrido e que, nos últimos dois anos, compareceu algumas vezes em delegacias para prestar depoimentos. Na época o caso foi registrado como suicídio e estupro de vulnerável e foi desmembrado. Agora, existe inquérito que apura a morte, com possibilidade de não ter ocorrido um suicídio.
Segundo relato da testemunha, no dia anterior aos fatos o casal foi até uma lanchonete e, na sexta-feira (19) ele estaria de plantão. Assim, na sexta de manhã ele saiu para o trabalho e retornaria só na manhã seguinte. “Conversei com ele durante o dia, pelo WhatsApp, e estava tudo bem. Por volta das 22 horas ele me ligou por vídeo, para ver nosso filho”, contou.
O casal tem um filho, que na época tinha apenas dois anos. “Ele falou comigo do alojamento da guarda, desligou e disse que precisava sair a serviço. Depois, mandei mensagem 2 horas da madrugada, dizendo que o filho dele tinha dormido”, explicou a mulher. Como o menino é autista, o casal se comunicava sobre a rotina e sobre como ele estava.
Naquela noite, a mulher estava com a filha, de 12 anos, e o menino. Eles estavam na sala, onde tinha uma cama de casal. A viúva de Fred explicou que por causa de um problema de infiltração no quarto, passaram a dormir na sala. Naquela noite, ela deitou com o menino na cama e a filha dormiu no sofá.
Após avisar o marido que o filho tinha dormido, ela também dormiu e só por volta das 4 horas foi acordada pela filha, a puxando pelo braço. “Mãe, o Fred vai se matar”, dizia a menina. A testemunha contou que saiu correndo pelo corredor e assim que passou pelo banheiro ouviu o tiro. “Quando entrei no quarto ele estava com a arma na boca, sem roupa nenhuma. Liguei para a PM e pedi socorro a um primo que morava na esquina”, afirmou.
Suicídio ou homicídio?
Ao Midiamax, a viúva de Fred disse acreditar que, no dia dos fatos, ele estaria sob efeito de cocaína. Ela chegou a pedir que fosse feito um exame toxicológico, mas até o momento não teve resposta. Atualmente, o processo sobre a morte de Fred tramita na 1ª Vara do Tribunal do Júri, que trata de crimes de homicídio, mas sem autoria.
O processo tramita em segredo de Justiça. “Eu também quero paz, quero viver em paz com meus filhos”, disse a mulher. Após a morte de Fred, ela chegou a descobrir sobre serviços que ele fazia e também com pessoas que ele estaria envolvido. “Ele colocou nossa vida em risco. Eu não posso me calar. Eu falei várias vezes sobre o que aconteceu na minha casa. Eu estava lá, ninguém matou o Fred”, disse.
A viúva do guarda municipal chegou a afirmar que não sabia sobre ameaças que ele estava sofrendo, apesar de saber de um desentendimento que ele teve com outro guarda, anos antes. “Ele foi um bom marido um bom pai, mas aquele dia, acabou”, disse.
“É a polícia que tem que falar depois de terminar esse inquérito”, afirmou a testemunha sobre uma possível reviravolta no caso. “Não tem como querer provar alguma coisa que ainda não foi finalizada, é a polícia que tem que falar”.
Denúncia de estupro
Antes da morte de Fred, ele teria cometido estupro de vulnerável. O fato foi comunicado à polícia e, segundo a testemunha, a menina foi levada ao posto de saúde, onde passou por exame inicial e tomou coquetel de medicamentos. Ela teria feito os exames, detectaram vestígios do crime.
O fato foi investigado pela Depca (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente) e, conforme laudos da Perícia, não foi confirmado o crime. No entanto, segundo a testemunha, o processo sobre o estupro só foi extinto por causa da morte do acusado. Ou seja, não teria como se punir o réu.
Inquérito policial
Em relatório da Polícia Civil anexado aos autos, a versão do estupro seguido de suicídio é desconstruída. Sem autoria, havia até suspeita de queima de arquivo. Fred morreu onze dias após a morte de Matheus Coutinho Xavier, de 20 anos, executado em 9 de abril de 2019.
Na época, Fred estaria interessado no crime. Fotos da camionete que Matheus dirigia quando foi assassinado foram encontradas em um dos celulares apreendidos pela polícia na época. Onze dias depois, ele foi encontrado morto pela esposa. Uma pessoa ligada aos fatos chegou a afirmar certeza da relação entre os crimes.
“Não podemos afirmar ou negar a ocorrência de suicídio e tão pouco de um homicídio”, conclui relatório policial.