MPE denuncia 4 por homicídio qualificado pelo feminicídio contra detetive particular
Número de telefone anotado em guardanapo junto com o lembrete “atender amanhã Vival dos Ipês” ajudou investigação da Polícia Civil esclarecer o crime
O MPE-MS (Ministério Público Estadual) denunciou quatro pessoas pela prática do crime de homicídio qualificado pelo feminicídio, motivo torpe, dissimulação e emboscada no assassinato da detetive particular Zuleide Lourdes Teles da Rocha, morta aos 57 anos com um tiro na cabeça, no dia 19 de junho, no bairro Vival dos Ipês, em Dourados.
A acusação pesa contra Givaldo Ferreira dos Santos, marido da vítima que teria encomendado o crime, Willian Ferreira dos Santos, filho dele que teria dado apoio ao esquema, José Olímpio de Melo Junior, apontado como autor do disparo fatal, e Sueli da Silva, citada como guia espiritual do mandante e isca que atraiu Zuleide se passando por potencial cliente.
Ganhos financeiros
Juntada na tarde de quinta-feira (8) aos autos em trâmite na 3ª Vara Criminal da comarca, a denúncia assinada pela promotora de Justiça Claudia Loureiro Ocáriz Almirão diz que “os denunciados Givaldo Ferreira dos Santos, Willian Ferreira dos Santos, José Olímpio de Melo Junior e Sueli da Silva praticaram o crime por motivos torpes, relacionadas a ganância de beneficiar-se economicamente com a morte da vítima, já que Givaldo pretendia apossar-se dos bens que estavam em nome da vítima”.
“Com isso, os denunciados Willian, José Olímpio e Sueli visavam obter ganhos financeiros decorrentes da apropriação pelo denunciado Givaldo do patrimônio amealhado com a vítima”, acrescenta.
Emboscada
Ainda de acordo com o MPE, José Olímpio de Melo Junior matou Zuleide com a promessa de receber R$ 25 mil de Givaldo.
“O homicídio foi executado mediante dissimulação e emboscada, pois, executando plano previamente engendrado entre si, os denunciados atraíram a vítima para a emboscada que resultou em sua morte. Nesse sentido, a denunciada Sueli da Silva utilizou a linha telefônica e o celular, fornecidos pelo denunciado Givaldo, para marcar um encontro com a vítima Zuleide, apresentando-se ardilosamente como pretensa cliente de seus serviços de investigadora particular e, assim, atraiu-a para a localidade onde os denunciados José Olímpio e Willian Ferreira a tocaiaram e José Olímpio matou-a com um tiro na cabeça”, detalha a denúncia.
Aparelhos celulares
O MPE requereu autorização de perícia de análise de dados nos aparelhos celulares apreendidos em poder dos acusados, “para acesso aos aplicativos diversos, notadamente aqueles de troca de mensagens e conversas, inclusive para que sejam restauradas mensagens e arquivos excluídos”.
Também visa a quebra de sigilos telefônicos porque foi justamente um número de telefone encontrado no carro de Zuleite, abandonado em Laguna Carapã, que levou o SIG (Setor de Investigações Gerais) da Polícia Civil a esclarecer o caso.
O contato estava anotado em um guardanapo junto com o lembrete “atender amanhã Vival dos Ipês”, onde o corpo da vítima foi encontrado. O MPE narra que essa linha estava cadastrada em nome de uma mulher e dias antes do homicídio havia sido utilizada por Givaldo no contato com outra pessoa, que confirmou a ligação no dia 17 de junho. Além disso, o cartão do chip dessa linha foi achado na casa de Sueli.
Zuleide Lourdes Teles da Rocha foi encontrada morta com um tiro na cabeça, no dia 19 de junho, no bairro Vival dos Ipês (Foto: Osvaldo Duarte/Arquivo/Dourados News)
Também foi solicitado pela Promotoria de Justiça o afastamento do sigilo de uma conta bancária que seria utilizada por Givaldo Ferreira dos Santos, para obter os extratos bancários relativos ao período de 1º de janeiro a 8 de julho deste ano.
Isso porque um funcionário indicou que Givaldo a utilizava “para movimentação de valores sem o conhecimento da vítima, ou seja, com desvio do patrimônio da empresa”.
Prisões
Além de requerer a prisão preventiva da denunciada Sueli da Silva, que foi liberada durante audiência de custódia realizada no dia 23 de junho, a promotora de Justiça pleiteia a manutenção dos demais indiciados presos. Givaldo Ferreira dos Santos e José Olímpio de Melo Junior estão na PED (Penitenciária Estadual de Dourados), enquanto Willian Ferreira dos Santos segue na cadeia pública de Jaciara, no Mato Grosso, município onde foi preso após o crime.
Quanto a Sueli, o MPE diz que “não desenvolve nenhuma atividade laborativa lícita e tentou empreender fuga, saindo da cidade quando os fatos vieram à tona, não apresenta os atributos que legitimem o entendimento de que represente amparo e proteção aos filhos, os quais deixou com o pais para tentar fugir da polícia”.
“Além disso, Sueli da Silva disponibilizou sua própria residência, na qual supostamente residem os filhos, para os encontros destinados ao planejamento do crime e também para a guarda da arma de fogo empregada na sua execução. A par disso, Sueli da Silva reside nas proximidades dos familiares da vítima, os quais encontram-se atemorizados pela possibilidade de que ela haja negativamente sobre eles. Evidentemente não se cuida de temor abstrato, posto que amparada nas ações em concreto de Sueli da Silva que, atuando como ‘guia espiritual’ dos demais acusados, pois se apresenta como ‘Mãe de Santo’ conduziu-os à empreitada criminosa que resultou na morte de Zuleide”, pontua a promotora de Justiça.
Na audiência de custódia do dia 23 de junho, o juiz Caio Márcio de Britto as concedeu a liberdade, mediante medidas cautelares, para Sueli da Silva. Ela está proibida de se comunicar, seja pessoalmente, por e-mail, por mensagens SMS, Whatsap, com qualquer parente da vítima ou dos demais acusados, e deverá permanecer recolhida na própria residência aos sábados, domingos e feriados, bem como diariamente de 19h00 às 06h00