Traficante de Dourados mandou matar funcionário, diz Polícia Federal

Traficante de Dourados mandou matar funcionário, diz Polícia Federal

Valter Ulisses Martins Silva teve prisão decretada junto com o irmão, mas conseguiu escapar do cerco policial

Valter Ulisses Martins Silva, 27, um dos “cabeças” da organização criminosa de tráfico internacional de cocaína desmontada no âmbito da Operação Prime, subornava policiais paraguaios, teria planejado o assassinato de um bandido rival e mandou matar um empregado da quadrilha. Também planejava sequestrar um médico catarinense, para obrigar o pai do profissional a pagar dívida de R$ 2,5 milhões.

Irmão do empresário douradense Marcel Martins Silva, 35, Valter é apontado pela Polícia Federal como o responsável pela logística do esquema e pela compra de drogas de fornecedores sul-americanos.

Marcel, que seria o principal chefe da organização, foi preso em condomínio de luxo em Dourados no dia 15 de maio. Valter conseguiu escapar e segue foragido. A suspeita é de que esteja escondido em território paraguaio.

Relatório das investigações conduzidas pela Polícia Federal e que embasou os mandados de prisão e de busca e apreensão cumpridos no mês passado revela detalhes de conversas de Valter com outros integrantes da organização, com fornecedor de cocaína peruano e com traficantes de outros estados brasileiros, compradores da droga enviada pelos irmãos Martins.

Valer Ulisses Martins Silva, que segue foragido (Foto:Reprodução)

Mensagens armazenadas em nuvem e interceptadas pela PF revelaram conversas entre Valter Ulisses com o contato “PPT/Nicolas”, apontado como provável comprador de drogas.

Nos diálogos, Valter relata ter tido problemas com a polícia do Paraguai e que teve de fazer um “acerto” de 300 mil dólares. “Tive que acertar com os polícias. Tive que entrar em acerto 300 mil dólares”, afirmou o traficante.

Na mesma conversa, Valter Ulisses demonstrou disposição de assassinar um traficante rival, tratado por ele de “FF”. “Ele me atrapalha aqui (…) Nós tinha que da um jeito de botar a mão nele né, muito difícil? (…) Tinha que empurrar ele (…) Tínhamos que achar ele, montar uma estrutura aí, procurar a mulher dele, seguir ela que ela vai levar nós nele. Porque se ele ver nós moscando, ele empurra nós também amigo”.

Funcionário assassinado

Segundo a Polícia Federal, há “numerosos indícios” de que Valter e Marcel providenciaram a contratação de pistoleiros paraguaios para a execução de Lider Ramon Ruiz Dias Recalde, ex-funcionário dos irmãos Martins, ocorrida em 24 de agosto de 2022 no povoado de Arroyto, a 145 km de Ponta Porã.

O crime teria sido praticado pelos pistoleiros Walter Ramón Duarte Espínola e Carlos Enrique Centurión Sosa, presos pela Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) uma semana depois com grande quantidade de armas e munições, em Cerro Corá. Com eles foi preso o brasileiro Mario David Distefano Fleitas, 31, funcionário dos irmãos Martins.

Conforme a Polícia Federal, Lider Ramon consta como contato na nuvem “userparaguai@icloud.com” e na nuvem “marcel@primeiralinhams.com.br” e aparece como motorista de cargas de soja entregues pela empresa Agrocanaã no primeiro semestre de 2022. Com sede no Paraguai, a Agrocanaã pertence aos irmãos Martins.

A PF descobriu também contatos com os supostos executores do crime e diálogos pelo aplicativo Threema (espécie de WhatsApp) em que falam sobre o pagamento de advogado para os pistoleiros.

“Isso é mais um elemento que dá certeza de que os irmãos Valter e Marcel estão ligados diretamente a assassinatos no contexto maior da atividade de narcotraficância”, afirmam os investigadores.

Em conversa interceptada, Valter Ulisses deu a ordem direta a Mario David Distefano Fleitas para o assassinato de Lider Ramon. “Faz a liquidación do Ramon”.

Braço direito de Valter e Marcel em Pedro Juan Caballero, Mario Fleitas era o responsável pela administração dos imóveis e dos gastos da família naquele país. Mario também teve a prisão decretada no âmbito da Operação Prime e segue recolhido.

Médico

Em outra troca de mensagens, Valter teria oferecido R$ 100 mil a “PPT/Nicolas” para sequestrar um médico de Joaçaba (SC) para conseguir o pagamento de R$ 2,5 milhões devidos pelo pai do médico. Valter encaminhou informações de rede social e de consultas públicas de cadastros médicos a “PPT/Nicolas”.

Segundo a PF, o pai do médico teria dado golpes em pessoas de Dourados, uma delas o próprio Valter Ulisses. Para obrigar o pai a pagar a dívida, o traficante teria mandado assassinar o médico, mas o contato “PPT/Nicolas” alegou que seria arriscado, pois a polícia “cairia em cima” de quem sofreu o golpe.

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