Paraguai poderá vender energia de Itaipu ao mercado brasileiro a partir de 2027
A partir de 1º de janeiro de 2027, a Itaipu Binacional poderá comercializar energia pertencente ao Paraguai para o livre mercado do Brasil. A informação foi repassada pelos executivos brasileiros em entrevista a jornalistas em Foz do Iguaçu (PR). O Dourados News participou do encontro.
O que permitirá essa possibilidade é a revisão do Anexo C do Tratado de Itaipu, firmado pelos dois países.
Atualmente, todo o excedente de ambos os lados deve ser adquirido pela própria Binacional, porém, como a demanda paraguaia é menor, boa parte da produção fica para o lado brasileiro comprar.
“Hoje, o Brasil consume 77% da energia de Itaipu (responsável por atender 10% do mercado local no ano passado) e o Paraguai 23%. Pela expectativa, em 30 ou 35 anos, eles estarão consumindo os 50% de direito”, explica o diretor técnico executivo, Renato Soares Sacramento.
Entre 2024 e 2026, o preço da tarifa de Itaipu já está definido em US$ 19,28 kw/mês.
Após esse período, o mercado é quem vai avaliar o valor a ser pago pela energia proveniente do Paraguai e produzida na hidrelétrica, algo que é impedido atualmente.
Diretor financeiro do lado brasileiro da Itaipu Binacional, André Pepitone da Nóbrega, em apresentação a jornalistas – Foto: Divulgação/Itaipu Binacional
“A Itaipu não é brasileira ou paraguaia, ela é binacional e tudo anda por consenso. A gente precisa equilibrar as ações. O Paraguai precisa de recursos para fazer políticas públicas e o Brasil precisa de modicidade tarifária. Então, dentro desses interesses, foi feito um acordo”, cita o diretor financeiro do lado brasileiro da Itaipu Binacional, André Pepitone da Nóbrega, para explicar a definição nesses três anos.
Antes de chegar aos US$ 19,28 kw/mês, o valor era de US$ 16,71. Após esse triênio, a tarifa pode ficar entre US$ 10 e US$ 12 kw/mês.
Pensamentos distintos
Historicamente, o país vizinho busca um valor tarifário mais alto para investimentos em políticas públicas e desenvolvimento local.
Já pelo lado brasileiro, a ideia é diminuir o preço da eletricidade, aumentando assim o acesso da população e competitividade industrial.
“São pautas diferentes, normal para quem busca o melhor para o seu lado”, citou o diretor geral, Enio Verri, ao falar sobre o assunto.
“Em fevereiro do ano passado acabou a dívida [de construção da hidrelétrica] e criou-se duas expectativas distintas. Para o governo Lula, ‘agora teremos uma tarifa baixa, que vai gerar inclusão social e desenvolvimento econômico’. Já para o Mario Abdo Benítez e o Santiago Peña [anterior e atual presidentes do Paraguai], ‘agora teremos excedente para recuperar e garantir o desenvolvimento’. Dois pensamentos justos, para quem tem 50% da empresa”, relatou Verri.
Enio Verri, diretor geral da Itaipu Binacional – Foto: Adriano Moretto/Dourados News
Como funciona
Através do mercado livre de energia, o Brasil negocia contratos sem prazos e amarras de preços. Atualmente ele é responsável em atender 41% da energia elétrica consumida no país.
Com a entrada do Paraguai, porém, com Itaipu podendo comercializar a energia do lado paraguaio apenas a partir de 2027, duas usinas daquele país podem repassar a energia ao sistema brasileiro: a de Yacyretá, com capacidade de 3,2 GW, e Acaray com capacidade de 200 MW.
A Itaipu
A Itaipu Binacional foi fundada no dia 17 de maio de 1974. Na época, foram empossados o Conselho de Administração e a Diretoria Executiva que possuem formação semelhante nos lados brasileiro e paraguaio.
Já o início da produção de energia ocorreu 10 anos depois, em maio de 1984, quando a primeira máquina da usina foi acionada pelo técnico mineiro José Pereira do Nascimento.
A hidrelétrica conta com 20 unidades geradoras e 14 mil MW de potência instalada e é líder mundial na geração de energia limpa e renovável.
Em 2023, Itaipu foi responsável por cerca de 10% do suprimento de eletricidade do Brasil e 88% do Paraguai.
*O repórter Adriano Moretto viajou a Foz do Iguaçu a convite da Itaipu Binacional