Carta interceptada em Brasília desencadeou operação à caça do patrimônio de Jarvis Pavão em MS
Acuada, promotora paraguaia diz desconhecer envolvimento do marido
As informações que norteiam a megaoperação de caça aos bens patrimoniais de Jarvis Chimenes Pavão, o ‘Barão das Drogas’ em Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã, e também em outros departamentos paraguaios saíram das suas próprias mãos, em uma carta que acabou interceptada no Presídio Federal de Brasília.
As investigações revelam que a carta escrita por Jarvis e interceptada pela Polícia Federal, no Brasil, foi o estopim das diligências que sacudiram a cidade que faz fronteira com Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. Com isso, nessa segunda-feira (10) foi desencadeada a Operação ‘Pavo Real’, que cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão.
“O manuscrito interceptado continha informações sobre suas propriedades no Paraguai, onde Pavão afirmava que determinada propriedade pertencia a fulano, outros a outra pessoa. Isso foi interceptado pela polícia brasileira e disponibilizado”, explicou Francisco Ayala, diretor de comunicação da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas).
Ainda segundo Ayala, “algumas empresas gerenciavam essas propriedades. Estamos falando de 11 pessoas jurídicas, e em relação às pessoas físicas, são 32. Elas movimentavam um total de 150 milhões de dólares no Paraguai, enquanto no Brasil eram 85 milhões de dólares”.
Segundo a Senad, Luan, filho do chefe narcotraficante Pavão, que também está preso, era responsável por distribuir as ordens do pai por meio de cartas manuscritas. Luan tinha um regime de visitas mais aberto, o que possibilitava uma maior conexão com os parceiros no Paraguai e no Brasil.
“Isso pode ser considerado um golpe devastador contra a organização de Pavão, pois os envolvidos não são apenas testas de ferro, mas sim parceiros diretos na estrutura criminosa”, explica Francisco Ayala.
A investigação continua em andamento para desvendar todas as ramificações e conexões da rede criminosa. As autoridades paraguaias estão empenhadas em desmantelar completamente a organização e garantir a segurança da população.
Contadores e advogados
Nova fase da operação ‘Pavo Real’, desencadeada na segunda-feira (10) pela polícia paraguaia através da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas), com o apoio da PF (Polícia Federal), teve 11 pessoas detidas até o momento, sendo 6 homens e 5 mulheres. As investigações atuam contra esquema de lavagem de cerca de 150 milhões de dólares, com origem no tráfico de drogas.
Foram realizadas diligências em 29 lugares em Amambay e na região Central do Paraguai. Em Pedro Juan Caballero, por exemplo, foram feitas 17 diligências que terminaram com a prisão de um contador, dois advogados, funcionários e representantes de empresas investigadas.
Já no Departamento Central, foram realizadas até o momento 12 diligências que resultaram na prisão de 4 pessoas, sendo dois representantes das empresas investigadas, um advogado e um contador.
Segundo informações obtidas pela reportagem do Midiamax, buscas acontecem em 11 empresas e cumprem mandados contra 32 pessoas. No entendimento da Senad, mesmo preso, Jarvis Chimenes Pavão continua comandando ações criminosas, que envolvem o tráfico de grandes toneladas de cocaína, principalmente por meio de uma rota que envolve o Rio Grande do Sul.
As diligências iniciadas na segunda foram focadas na investigação patrimonial e financeira do esquema montado pelo criminoso. Essa ação, segundo o órgão faz parte de um acordo estabelecido no âmbito do Mercosul contra o poder do “Barão das Drogas”, como Pavão é conhecido.
Durante as diligências comandadas pela Senad, o esposo da promotora paraguaia Kátia Uemura, Daniel Montenegro atirou contra os agentes e acabou preso. A Senad, entretanto, não deu detalhes sobre o envolvimento dele no âmbito das investigações.
Segundo informações obtidas pela reportagem do Midiamax, além do marido da promotora paraguaia, a polícia prendeu mais 10 pessoas. Quatro pessoas foram detidas em Assunção e sete em Pedro Juan Caballero.
A operação, denominada “Pavo Real”, é resultado de uma investigação que se estende por mais de 30 anos sobre o histórico criminal do narcotraficante Jarvis Chimenes Pavão, atualmente cumprindo pena no Brasil.
‘Dama da justiça’
A prisão do marido de Kátia Uemura, que é considerada uma ‘Dama da Justiça’ em Pedro Juan Caballero, como revelou uma fonte ouvida pela reportagem do Midiamax, além da sua atuação no combate ao crime organizado, chama a atenção por ser uma mulher bonita, foi também o assunto do dia nas redes sociais paraguaias.
“Ela é uma mulher que desperta admiração pela beleza e ao mesmo tempo cultiva questionamentos. Alguns do seus casos investigados já geraram polêmicas. O que também causa estranheza é o fato de estar à frente do combate ao crime organizado enquanto o marido trabalha na defesa”, comenta essa mesma fonte.
Após a divulgação do nome do seu marido na lista de presos da nova fase da operação ‘Pavo Real, Kátia se viu obrigada a dar explicações. Na tarde de segunda-feira (10), com a operação ainda em andamento, a promotora divulgou uma nota oficial.
Veja abaixo o que ela disse:
Nota a opinião Pública
Em relação à notícia divulgada na manhã desta segunda-feira (10/07/2023) que menciona minha pessoa por meio de alguns meios de comunicação, sinto a necessidade de expressar estas palavras, levando em consideração o compromisso que tenho com a sociedade devido ao cargo que ocupo. Portanto, gostaria de afirmar o seguinte:
Em primeiro lugar, desconheço os fatos atribuídos ao meu cônjuge, o advogado Daniel Montenegro.
Nesse sentido, quaisquer suspeitas que possam existir em relação a ele não têm relação comigo, nem com a linha de trabalho na qual atuo.
Portanto, esclareço que sempre conduzi com o máximo de cautela e cuidado todas as investigações que realizei no meu papel como agente fiscal.
Por fim, coloco-me à disposição das autoridades responsáveis por esta investigação, às quais oferecerei minha colaboração no que for necessário para esclarecer essa situação o mais rápido possível.
Katia Uemura